Cinemas e cineclubes partilham da mesma necessidade que os originaram: organizar o acesso e a distribuição dos filmes. Mas os clubes de cinema vieram com uma necessidade a mais: a participação e diálogo entre espectadores e criadores. Talvez seja isso o que ofereça ao movimento cineclubista um contexto próprio muito peculiar.
Há uma articulação que liga vários agentes, produtores e espectadores em rede; há um conselho nacional que promove ações e discute políticas para o segmento; há programas importantes e consolidados em territórios indígenas e comunidades mais distantes dos grandes centros etc. No Plano Nacional de Cultura, há diversas ações ligadas tanto para Cinema, quanto para Cineclube.
Como, afinal, podemos pensar o audiovisual e os cineclubes como linguagem e espaço que conseguem ser abrangentes tanto em termos de articulação e mobilização política, quanto em temos do encontro de singularidades?
Gilvan Dockhorn, secretário geral do Conselho Nacional de Cineclubes, lembra que, na era do que o escritor Giovanni Sartori chamou de “Homo Videns” somos “seres audiovisuais”. Isso quer dizer que nossa significação do mundo e criação de sentidos passa por conteúdos de áudio e imagem. Dockhorn também é professor de História e da área de Humanidades da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), e coordena o Cineclube Abelin Nas Nuvens de Silveira.
“Mesmo que atualmente possamos perceber que o público tenha se formado no processo de desenvolvimento e institucionalização do cinema, o público se ampliou ao conjunto das indústrias culturais, das linguagens, dos suportes e formas de relação entre a criação e a recepção, cuja intermediação é apropriada pelo capital”, explica Gilvan. Para ele, o público somos todos os que não dominam ou possuem os meios de produção e distribuição da informação/conhecimento ou o resultado da produção – sempre coletiva – da cultura.
Segundo ele, mais de 90% dos municípios do país não contam com salas comerciais de cinema. Nesse cenário, a onda crescente de cineclubes que se constituem como espaços não apenas culturais, mas de politização da cultura no sentido de entendê-la como direito fundamental, se soma às iniciativas de garantia de acesso e apropriação de sentidos que a obra audiovisual propicia.
Com isso, os cineclubes configuram-se como espaço para a diversidade cultural e se fortalecem ao se colocarem abertos às diferentes manifestações ideológicas, desde que não representem segregação, intolerância ou preconceitos. “Isso não acontece nas salas comerciais porque elas são inviáveis em municípios com menos de 100.00 habitantes, que não representam o lucro necessário, uma vez que elas ignoram áreas deste tipo e compreendem o público como consumidor”, explica o professor.
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