Na semana passada explicamos o que é o sistema de crowdfunding, e como as pessoas podem tirar do papel aquele velho filme dos sonhos e torná-lo realidade através do financiamento coletivo. Nesta segunda parte vamos mostrar os exemplos reais de pessoas que conseguiram financiar seus filmes desta forma.
É possível fazer seu filme...
Quem já tentou fazer um curta-metragem sabe o grande trabalho e quantidade de dinheiro que envolve desenvolver um filme de qualidade. Quem já tentou desenvolver um longa-metragem então, sabe que no Brasil, mesmo com tantos editais, leis de incentivo e crowdfunding, as chances de fazer o filme dar certo (e obter um certo lucro) são muito pequenas.
Mas o pessoal da produtora Filmes para Bailar não se deixou desanimar e está realizando o longa Delírios de um Cinemaníaco. O filme foi baseado no roteiro autobiográfico do cineasta José de Oliveira, de São Carlos, SP, e em 90 minutos abordará a sua vida, em uma narrativa de memórias que mistura ficção e realidade. O diretor e produtor do filme, Felipe Leal Barquete, nos contou um pouco mais do projeto: “O filme é oficialmente uma ficção clássica, no melhor estilo hollywoodiano, embora uma das fases da vida do personagem seja interpretada pelo próprio José de Oliveira, com 80 anos de idade. Portanto, o filme explora essa fronteira entre ficção e documentário, com o propósito de revelar o ser humano que existe para além das inúmeras manifestações da sua personalidade, que no filme fica exposta pelas suas memórias reinventadas”.
O longa está em produção desde 2009 e a equipe já tinha mais de 60% das filmagens quando decidiram colocá-lo no site de crowdfunding Catarse para arrecadar o restante para finalização. Em menos de dois meses no ar, o projeto conseguiu alcançar sua meta e arrecadou mais de R$ 17 mil, oferecendo contrapartidas bacanas como DVD, cartaz, storyboard do filme e vagas em workshop.
No momento, o filme está sendo montado e as contrapartidas sendo produzidas para serem lançados em conjunto, mas o Delírios de um Cinemaníaco já possui um site oficial, um teaser e um trailer, que você pode conferir abaixo:
Tudo isso foi possível a partir de pessoas doando R$ 30, e o filme já tem planos para ser exibido em mais de 1.200 cineclubes no Brasil, em festivais nacionais e internacionais, além de ser disponibilizado para download gratuitamente na internet.
Mas o site não serviu apenas para financiar o projeto. Barquete explica que a rede estabelecida também é fundamental: “Com o projeto no ar, nós afirmamos uma postura empreendedora de apresentar o trabalho aos amigos, familiares, parceiros, empresas etc., com o intuito de captar os recursos necessários para atingir a nossa meta. Esses esforços foram válidos para uma estratégia mais ampla de adesão de público, uma vez que as mídias sociais ampliaram a divulgação do trabalho para um universo até então inexplorado pelo filme, atingindo pessoas dos mais diversos círculos sociais”.
A mesma coisa aconteceu com a animação O Mensageiro da Galáxia, projeto financiado através do site SIBITE. A ideia inicial era fazer uma série em rotoscopia para a web, “uma ficção-científica contando a estória de um ser encontrado na órbita da Lua por dois astronautas”, segundo André Migueis, diretor do filme. O que é rotoscopia? Uma animação que é feita após as filmagens, como no filme O Homem Duplo, de Richard Linklater, por exemplo.
O projeto foi lançado junto com o site, e além de conseguir mais do que os R$ 10 mil necessários para fazer o episódio piloto, os realizadores arrumaram parcerias com a Guepardo Produções, que forneceu os equipamentos e as ilhas de edição, e com a Tibet Filme, que forneceu o estúdio para as gravações, tudo isso com a mediação do site. E isso fez o projeto voar.
Os realizadores já têm o roteiro de 12 capítulos de meia hora e o episódio piloto foi apresentado a uma emissora de TV a cabo, que está negociando uma parceria. Deu tudo tão certo que o plano de Migueis é colocar um novo projeto no site, para arrecadar mais fundos para dar continuidade à série.
E ele incentiva a pessoas a utilizarem o sistema: “Creio que o crowdfunding é um fenômeno democrático, parte desse princípio da comunicação em rede, isso é o futuro. O que diferencia o Sibite é que eles buscam aumentar a conexão dos projetos com empresas. Uma bela iniciativa que para o nosso grupo de criação deu muito certo”. Barquete completa a dica: “A chave da criação está dentro da gente. Portanto, escreva um projeto, e você encontrará redes que vibram na sua frequência, e que podem apoiar o seu trabalho, para que ele se concretize. A estratégia é muito importante. Entre no site, observe sua lógica, pesquise, converse com as pessoas!”
...E o Facebook pode ajudar!
Como citamos na edição anterior, se você tem um projeto menor, ou prefere ter mais autonomia para sua arrecadação, você pode montar seu projeto a partir de sua própria conta no Facebook.
Conversamos com André Gabriel, criador do aplicativo Mobilize, o pioneiro na transformação da página da rede social em uma página de crowdfunding, e ele nos explicou como funciona: “Ao instalar o aplicativo, a pessoa selecionará a página onde ela quer adicionar o Mobilize. Depois de adicionado, ela personalizará sua campanha de crowdfunding (colocando as informações que desejar, como vídeo, fotos, descrição e recompensas do projeto). Ela precisará também de uma conta MoIP que é um sistema seguro de pagamentos online para receber as contribuições ao seu projeto. Ela recebe o dinheiro na hora em sua conta MoIP, a cada contribuição”.
De acordo com os dados fornecidos por Gabriel, em menos de dois meses de circulação do Mobilize, quase 400 pessoas já instalaram o aplicativo, sendo que 170 projetos já estão no ar. As vantagens desse sistema são claras, além de uma grande autonomia, já que você pode personalizar a sua página como quiser e o dinheiro cai na hora em sua conta, e estamos falando da maior rede de pessoas no mundo, o Facebook.
Mas é claro que nesse sistema não há um monitoramento, cabe a você descobrir se o projeto é realmente cultural e se o seu dinheiro será bem utilizado. Para isso, Gabriel alerta que você pode “fuçar” o perfil de quem criou o projeto, seus amigos e o que as pessoas estão dizendo dele.
Agora que você já sabe como e que pode, sim, dar certo, só falta experimentar. Faça seu cadastro nos sites, dê uma olhada nos projetos que te interessam, contribua, coloque o seu próprio projeto no ar e ajude a dar um pontapé para uma cultura mais colaborativa no país.
Fonte: Cinema em Cena por Larissa Padron na coluna Que Cinema É ESSE?
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