quinta-feira, 14 de março de 2013

Como financiar seu filme pela internet



Você sabe o que é crowdfunding? Traduzindo ao pé da letra, crowdfunding significa "fundo de multidão", ou seja, é um financiamento coletivo, pessoas físicas e jurídicas doando dinheiro por alguma causa. Vulgo “vaquinha”. E por mais que esse sistema já exista há décadas, ele tem sido bastante utilizado no âmbito da internet, especialmente a partir de 2008, quando doações online feitas por mais de um milhão de pessoas ajudaram na campanha e eleição de Barack Obama, atual presidente dos Estados Unidos.
 
Crowdfunding também significa que você pode realizar velhos sonhos a partir do um real dos outros. Mas o que isso tem a ver com cinema? Tem a ver que para conseguir colocar na tela aquele seu velho roteiro você não precisa sair lendo editais ou procurando empresas patrocinadoras. Claro, isso ainda é necessário dependendo do caso, mas hoje você já pode concluir seu filme usando apenas o seu Facebook.
 
O site Cinema em Cena conversou com Diego Reeberg, sócio-fundador do Catarse, e Bruno Beauchamps, sócio-diretor do SIBITE. Eles são responsáveis por dois dos principais sites do sistema de crowdfunding no Brasil.
 
 
Como funciona?
 
Para inscrever um projeto nesses sites você precisa ter um plano bem estruturado do que pretende fazer com o investimento, ter uma explicação do projeto como um todo, o valor que precisa (que será a sua meta) e oferecer as contrapartidas, que é o que você oferece em troca das doações. Por exemplo, quem doar acima de R$ 20 pode ganhar um ingresso para a pré-estreia do filme; quem doar acima de R$40 ganha ingresso para a pré-estreia e mais um cartaz autografado, e por aí vai. Normalmente, quanto mais criativas as contrapartidas, maiores as chances de sucesso.
 
Para ambos os sites você também precisa criar um vídeo explicando o projeto. A partir disto, a curadoria de cada site vai avaliar o seu projeto e verificar se ele é viável, se as contrapartidas são interessantes, se o benefício é realmente para um projeto cultural, e não para ações individuais, e estabelecer um tempo para a meta ser atingida. Projetos mais caros normalmente requerem um tempo maior para arrecadação.
 
Por exemplo: se você está sem dinheiro para realizar a sonorização de seu filme e orçou o valor necessário em R$ 8 mil, você elabora uma descrição e um vídeo para explicar o seu filme como um todo, envia o vídeo para o site junto como uma justificativa de onde será aplicado o dinheiro, e o site vai definir se o projeto é viável e determinar o tempo (o que pode ser semanas, meses, um ano...) em que ele ficará disponível para doações.
 
Os valores variam muito e podem ser doados tanto por pessoas físicas, o que é mais comum, quanto por pessoas jurídicas. No caso do SIBITE, também existe uma rede de investidores e o site realiza a mediação, podendo encontrar uma empresa patrocinadora para o seu projeto.
 
Com o projeto no ar, uma porcentagem do valor arrecadado fica para o site como taxa de manutenção. No caso do Catarse, a taxa é de 7,5% do montante, mas apenas para os projetos bem sucedidos, que conseguem atingir a meta no tempo estipulado. Aqueles que não conseguem não perdem nada, pois a inscrição no site é gratuita e o dinheiro arrecadado é devolvido aos investidores nesse caso.
 
Mas além de possibilitar o financiamento de projetos culturais, os sites de crowdfunding são principalmente um espaço de troca entre pessoas engajadas culturalmente. O SIBITE, por exemplo, possui uma rede social dentro do próprio site, na qual você pode entrar em contato direto com uma rede de investidores e ainda mobilizar mais pessoas para divulgar seu projeto. No Catarse você pode fazer login com a sua própria conta do Facebook, mas Reeberg explica que a interação pode ir mais além: “O Catarse é mesmo um espaço de trocas. O financiamento é o cerne, mas por ali rolam discussões, algumas pessoas oferecem serviços de ajuda aos realizadores, o realizador pode criar uma comunidade a partir de quem apoiou o projeto, e por aí vai”.
 
 
E como fazer funcionar?
 
Quanto mais bem divulgado o seu projeto for, mais chances ele terá de ser bem sucedido - e, para isso, as diversas redes sociais existentes são grandes aliadas. As redes sociais são tão importantes para o sistema de crowdfunding que até mesmo pelo próprio Facebook você pode montar uma página para angariar os fundos dos quais necessita. O aplicativo Mobilize foi criado especificamente para isso.
 
Os próprios nomes dos sites dizem da essência do sistema de crowdfunding. "Catarse", no dicionário, é “palavra pela qual Aristóteles designa a ‘purificação’ sentida pelos espectadores durante e após uma representação dramática”. É realizar um desejo seu através da realização dos outros. Já o nome "SIBITE" vem da importância da insistência para realizar um projeto cultural no Brasil. Segundo Beauchamps, “Sibite é um tipo de passarinho do nordeste brasileiro, um passarinho mirrado, mas muito persistente, que não desiste nunca. Nosso movimento cultural é bem por aí também. Temos que criar uma cultura de investimento”.
 
As vantagens desse método de financiamento são menos burocracia, maior facilidade de divulgação, aproximação com o público e menos risco financeiro. Mas não é só isso. Segundo Reeberg, “em geral, é caro fazer cinema. Então é muito comum um projeto entrar no site para fazer parte da captação só para a edição, só para a sonorização, só a montagem. Essa é uma oportunidade bem bacana pra captar aquela grana final para o projeto acontecer, além de deixar o público mais perto. E o fato de que as pessoas podem contribuir a partir de muito pouco, né? R$10 todo mundo tem!”
 
Beauchamps conclui: “O sistema de crowdfunding democratiza o acesso dos pequenos ao mercado cultural. Quando alguém coloca um projeto numa plataforma de crowdfunding, ele está pré-vendendo alguma coisa que ainda não saiu do papel, que não aconteceu. Isso gera um boca a boca, uma campanha na internet antes de o projeto realmente acontecer”.
 
 
Mas... Dá mesmo certo?
 
Em apenas um ano de funcionamento, o Catarse já teve 278 projetos finalizados, uma média de cinco por semana. Mais da metade desses projetos foram bem sucedidos, arrecadando ao todo R$ 1,36 milhão de mais de 15 mil pessoas, de todas as regiões do país. Cerca de 15% desse montante arrecadado foi para a área Cinema & Vídeo, a segunda mais bem sucedida no site (a primeira é Música). O projeto que mais deu certo no site é um projeto de cinema. O documentário Belo Monte – Anúncio de Uma Guerra arrecadou R$ 140 mil reais para a sua finalização.
 
Já no SIBITE, a série de animação em rotoscopia O Mensageiro da Galáxia foi o segundo projeto a bater sua meta no site, conseguindo mais de R$ 10 mil para fazer o seu episódio piloto.
 
Quer saber mais se fazer um filme (ou ajudar um) com dinheiro de vaquinha online vale a pena? Na segunda parte desta edição da coluna, você vai conhecer o lado de quem tem um projeto cadastrado em um site de crowdfunding e o de quem investe nesses projetos.
 
Você também pode saber mais detalhes sobre o Catarse e o SIBITE nas entrevistas que fizemos com Diego Reeberg e Bruno Beauchamps:
 
 
 
Fonte: Cinema em Cena por Larissa Padron

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