quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Três filmes representam o Brasil no Festival de Berlim 2011

Festival de Berlim

por Jessica Soares

Dada a partida para temporada de premiações e festivais de 2011, acontece na capital alemã, entre 10 e 20 de fevereiro, a 61ª edição do Festival de Berlim. A cada ano o Berlinale exibe em torno de 400 filmes em seu programa, e atrai mais de 19 mil profissionais do cinema de 128 países para prestigiar e debater produções de todo o mundo. E o Brasil chega ao evento bem representado.
O sucesso máximo de público no Brasil, Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro, de José Padilha, será exibido dentro da programação da mostra Panorama, geralmente focada em filmes independentes ou de países "distantes" que atraem um exigente e interessado público. Em 2008, Padilha aproveitou bem a viagem à capital alemã com o longa Tropa de Elite e trouxe para casa o Urso de Ouro, premiação máxima do Festival.
Mas nem só de "blockbusters" estrangeiros vive o Festival. Dentro da mostra Fórum, que apresenta filmes originais e provocativos que ousam quanto ao formato e fogem do que geralmente é visto na telona, será exibido o longa Os Residentes, do mineiro Tiago Mata Machado. Na produção, os residentes-título habitam um prédio prestes a ser destruído. Criam lá uma zona autônoma temporária e declaram guerra às regras do mundo - mas logo percebem que são uma quase imitação das bandeiras já levantadas pelos artistas dos anos 60 e 70. Usando a própria forma e diversos símbolos para ser uma expressão e junção de todas as formas de arte, o filme foi premiado na 14ª Mostra de Tiradentes.
Mais um diretor mineiro faz presença no seguimento Curtas do Festival. Ensolarado, de Ricardo Targino, conta a história de Lena, a única menina entre quatro irmãos. Os garotos gostam de seguir sua mãe até o rio e, enquanto ela faz vasos de argila e lava roupas, brincam com os animais. Lena não gosta de nada disso e prefere ficar dentro de casa, brincando sozinha. Mas não faz isso por simples opção: sofre de fotofobia, alergia a luz. Com a visita de um vizinho sua vida pode mudar.
Além dos três seguimentos do Festival em que brasileiros marcam presença, o programa conta com quatro outras Mostras (além de outras "especiais", organizadas a cada ano): na Competição são exibidos grandes sucessos de bilheteria; Geração apresenta produções destinadas à audiência jovem; Perspectivas do Cinema Alemão, como o nome sugere, destaca temas e estilos que tem se tornado uma corrente na Alemanha, apresentando esses filmes para o mundo; e, apropriadamente exibida no Filmmuseum Berlin (a cinemateca alemã), a seção Retrospectiva permite que clássicos sejam redescobertos e que longas que considerava-se perdidos sejam assistidos por grande público.

Os vizinhos
Somente na mostra Fórum, a América Latina tem mais quatro representantes. O colombiano Karen Llora en un Bus, de Gabriel Rojas Vera, conta a história da personagem título que, em busca de novos caminhos, deixa seu marido após de dez anos de casamento. Depois de sua decisão, ela precisa lidar com questões mais práticas: não tem emprego ou amigos e tem pouquíssimo dinheiro em mãos. Apesar das dificuldades, ela entra em uma viagem de auto-descoberta, se questionando sobre os desejos que a motivaram, a facilidade com que confundimos as expectativas dos outros com os nossos verdadeiros desejos, e até que ponto devemos abrir mão de nossas ambições em troca de segurança e estabilidade.
Ocio e Ausente representam a Argentina, sob comando de Juan Villegas e Marco Berger, respectivamente. No primeiro, acompanhamos dois jovens que vivem com o pai em um apartamento. A ausência de sua mãe, recentemente falecida, ainda é fortemente sentida. Os três não conversam muito. A narrativa evolui a partir da música e das imagens que dialogam com suas vidas, e sugerem mais do que o que ficaria explícito. Já em Ausente, acompanhamos Martin, que procura desculpas para sutilmente invadir a privacidade de seu professor de esportes, Sebastian, e acaba passando a noite em sua casa. O filme é um relato de abuso de um adulto por um menor completamente consciente da delicada posição de seu professor - e disposto a tirar vantagem disso.
O Chile está presente com o longa de Marcela Said, El Mocito, que conta a história de Jorgelino Vergara. Ele tinha 14 anos quando deixou o interior e se mudou para a capital. Seus caminhos se cruzaram com os dos torturadores do regime de Pinochet, e ele passou a servir café no local em que interrogavam, torturavam e assassinavam inimigos políticos. Já homem, Jorgelino vive completamente sozinho e se arrepende de sua vida desperdiçada. O filme acompanha esse momento em que Vergara tenta se acertar com seu passado, e na jornada que o leva a lugares e pessoas importantes para ele, enquanto sua história e do próprio Chile se misturam.
A programação completa do festival você confere clicando aqui.

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