quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Especial Oscar: Academia? Que Academia?

por Virgílio Souza

Se você acompanhou pelo menos uma edição do Oscar em toda a sua vida, certamente já ouviu algum premiado ator subir ao palco e dizer (com tradução de Rubens Ewald Filho): "Eu gostaria de agradecer à Academia". Mas quem é essa tal Academia? Por que razão agradecem a ela, e não aos pais e a Xuxa?
Explicamos. A tal Academia é a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Academy of Motion Picture Arts and Sciences, A.M.P.A.S.), uma organização fundada em 1927 com o intuito de fomentar o desenvolvimento e a excelência do cinema. Ela conta com mais de seis mil membros (eram 36 na fundação) e realiza uma série de funções, que vão desde a restauração de produções antigas à criação de novas tecnologias para os filmes. Seu papel mais conhecido, contudo, é o de, ano após ano, premiar profissionais que se destacaram em suas respectivas áreas de atuação. E isso é o Oscar.
Portanto, quando Natalie Portman subir ao palco do Teatro Kodak no próximo dia 27, receber seu troféu e disser "Academia, eu te amo!", não pense que ela se refere aos exercícios que tem feito para manter a boa forma durante a gravidez. O agradecimento é direcionado ao conjunto de atores, produtores, diretores e demais profissionais da indústria cinematográfica que, coletivamente, decidiram premiá-la. E, ainda, é uma homenagem à organização, que tem trabalhado nos últimos 83 anos em benefício desses profissionais.



O voto é secreto

Os indicados ao Oscar - anunciados no último dia 25 - não são escolhidos de uma só vez pela Academia. Os membros votam apenas em suas respectivas categorias. Isso significa, por exemplo, dizer que a "culpa" por A Origem não ter sido indicado a Melhor Montagem é dos próprios montadores, que optaram por outros cinco trabalhos. As únicas exceções são as categorias de Animação e Filme Estrangeiro (cujos júris são compostos por membros de mais de uma "área") e Melhor Filme, que é escolhido por todos os participantes da Academia.
Após o anúncio das indicações, os membros da Academia têm menos de um mês para enviarem suas cédulas de votação à organização. Nessa etapa, não há distinção de áreas: todos podem votar em todas as categorias. Contudo, para eleger os vencedores em Curta-Metragem, Curta-Metragem de Animação, Documentário, Documentário de Curta-Metragem e Filme Estrangeiro, os membros devem atestar ter visto todos os indicados nessas categorias, comparecendo às exibições promovidas pela própria Academia. A regra é tão severa que um membro da organização não poderá votar sem comparecer a essas sessões, ainda que tenha assistido aos filmes em DVDs enviados pelas próprias produtoras.
A eleição de Melhor Filme ocorre da seguinte maneira: os votantes colocam os indicados em ordem decrescente de preferência em suas cédulas, de 1 a 10 (ou seja, 1 é o preferido). Então, as cédulas serão registradas de acordo com o chamado "sistema preferencial": o filme que aparecer o menor número de vezes como número 1 será eliminado e os votos dados nesse filme serão passados ao segundo colocado em cada uma das cédulas em que aparece como primeiro. Em seguida, o próximo filme que figurar com menor frequência como primeiro colocado também será eliminado - e seus votos transmitidos ao segundo colocado.
Em determinado momento, um longa estará com mais de 50% dos votos e será escolhido o Melhor Filme do ano. A seguir, um exemplo extremamente simplificado (e até tosco), considerando apenas três votantes e três indicados:



 Cédulas: A, B e C.

Inicialmente, o longa A Origem seria eliminado por não aparecer como primeiro colocado em nenhum cédula. Assim, ficaríamos com apenas seis votos válidos (e não nove).
Posteriormente, A Rede Social seria eliminado por aparecer apenas uma vez como primeiro colocado (na cédula C). O Discurso do Rei herdaria esse seu voto, ficaria com um total de três votos (em apenas três válidos) e se sagraria o grande vencedor do Oscar 2011. Vidência? Talvez.

Oscar é coisa séria
Em 1998, Helen Hunt desbancou Kate Winslet e levou para casa o prêmio de Melhor Atriz por Melhor É Impossível. A reação da estrela de Titanic ao perder o troféu-lo é simbólica (veja aqui). Com um misto de surpresa, decepção e até uma boa dose de raiva, Winslet reagiu como se fosse uma candidata derrotada em uma eleição. Pois saiba que, em ampla medida, foi exatamente isso o que aconteceu.
Nos meses anteriores ao anúncio dos indicados, os estúdios, produtores e publicitários investem pesado para evitar que seus filmes sejam esquecidos pelos votantes. Parte da estratégia consiste em enviar DVDs com as produções para críticos de todo o planeta, para que eles sejam avaliados e ganhem a simpatia dos eleitores. Afinal, o mínimo que se espera de um indicado ao Oscar é qualidade - e, inicialmente, cabe à crítica o papel de reconhecê-la.
Outra estratégia, essa voltada mais especificamente para os norte-americanos, são os For Your Consideration ads (ou anúncios Para Sua Consideração). Eles funcionam como verdadeiros "santinhos de eleição": indicam as categorias em que o filme anunciado deve ser votado e apresentam argumentos para dar sustentação a essa escolha. Geralmente, a argumentação consiste em trechos elogiosos de críticas sobre a produção. Para se ter ideia da magnitude das campanhas, certos FYC ads chegam a ocupar a capa (!) de revistas como a Variety e a The Hollywood Reporter, especializadas em entretenimento.
Abaixo, você confere exemplos de anúncios dos principais longas indicados à próxima edição da premiação. Note que cada um deles possui um alvo distinto: Cisne Negro propagandeia seu diretor de fotografia, Matthew Libatique; 127 Horas, por sua vez, tenta conseguir votos para Melhor Filme; já Toy Story 3 pede votos "em todas as categorias", incluindo Melhor Animação e Filme.

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